quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O monopólio na mídia

Há muitos filmes que retratam o poder da mídia, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Cidadão Kane é apenas mais um deles, pois mostra o poder de um magnata da imprensa, assim como foram Willian Hearst nos EUA e Assis Chateaubriand e Roberto Marinho no Brasil. Como nos mostra o filme e também a realidade, quem tem o monopólio da imprensa, tem também o monopólio do povo.

A imprensa (e a mídia em geral) é produtora de sentido e esse sentido, ao chegar à população, pode alternar o cenário social. O filme A Montanha dos Sete Abutres é um exemplo disso. O jornalista central da história manipula a situação, alternando o sentido dos fatos, gerando mais conteúdo para o seu jornal, comoção da população e monopólio da notícia. Eis então a palavra chave para se entender a concepção do jornalismo.

O monopólio é, ainda hoje, embora não tanto quanto já foi um dia, a sombra que oculta a população de si mesma, pois ao conceder o poder a determinado veículo que se apropria dos fatos produzindo o sentido que será lançado aos cidadãos, impede a mesma população de ter acesso a outras versões e a novos sentidos. Foi devido ao poder monopólico do jornal de Hearst em 1898 nos EUA que se iniciou a guerra hispano-americana, explicitamente incentivada por Hearst. Além do mais, o monopólio, assim como o oligopólio, determina quem dita o que é e o que não é noticia, fechando os olhos das pessoas para tudo aquilo que não lhes convém ser visto, como a corrupção de alguns governantes apoiados pela mídia.

Como já foi dito aqui, quem tem poder sobre a mídia tem poder sobre o publico dessa mesma mídia. Um bom exemplo desse domínio foi a “censura” movida na chamada “justiça” pelo dono do império Globo de Televisão, Roberto Marinho, ao documentário Muito Além do Cidadão Kane, produzido pelo inglês Simon Hartog. O filme que conta a história da Rede Globo foi proibido no Brasil desde sua estreia em 1993.

Esse tipo de coisa “impede que o país cresça democraticamente e se torne socialmente mais justo. A democracia [...] precisa de maior diversidade informativa e de amplo direito à comunicação. Para que isso se torne realidade, é necessário modificar a lógica que impera no setor e que privilegia os interesses dos grandes grupos econômicos” . Por isso, para abrir os olhos da sociedade, clarear as sombras causadas pelo domínio sobre a imprensa e da imprensa sobre o público, são tão importantes a mídias alternativas independentes. Uma televisão pública, não estatal, independente financeiramente seria o ideal para o exercício da cidadania e da função social do jornalismo efetivamente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Confiaremos em jornalistas sem diploma?

Eduardo Cunha*


RIO - Você, cidadão, confiaria o seu filho para uma cirurgia com um médico sem diploma? O que dizer de um advogado que sequer frequentou bancas universitárias e tampouco ostenta a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)? Obviamente que o mesmo vale para o cenário atual da imprensa. A reflexão é pertinente (e urgente), sobretudo por conta do fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista após decisão, em junho, do Supremo Tribunal Federal (STF).



A imprensa tem um papel essencial para a construção da história brasileira, isso desde o Império. Daqueles primeiros pasquins nasceu o processo de democratização do Estado. Foram aqueles pioneiros jornalistas que descortinaram as mazelas sociais e políticas que sempre atemorizaram nossa nação. Após 200 anos da constituição de uma imprensa representativa e com reconhecimento internacional, deparamo-nos com uma postura surpreendente do Supremo. Se o Poder Judiciário ignora a relevância histórica do papel dos jornalistas para o país, o mesmo não se pode dizer do Poder Legislativo.


O fato de representar uma atividade profissional que repercute na vida de todos nós, cidadãos brasileiros, bastaria para que os ministros do STF fossem, em uníssono, favoráveis à obrigatoriedade do diploma, que existe há cerca de 40 anos. Definitivamente, as técnicas de entrevistar, reportar e editar exigem uma qualificação profissional devidamente referendada por um diploma emitido por instituições de ensino reconhecidas pelo Ministério da Educação.


Desde a redemocratização, os brasileiros vivenciam arduamente um processo de aperfeiçoamento da vida institucional. Nesse período, várias crises políticas e econômicas colocaram em xeque as virtudes da democracia, mas em nenhum momento nossa sociedade fraquejou na crença de que esse é o único caminho, se queremos consolidar a maturidade da nossa nação.


O alicerce desse edifício é a Constituição de 1988, obra pela qual muitos brasileiros e segmentos sociais deram inestimáveis contribuições. A imprensa, em geral, é um destes principais atores.


A defesa de que sejam aperfeiçoados os instrumentos da legislação para que se evitem atos de irresponsabilidade não pode se confundir com iniciativas que ao final signifiquem redução da liberdade de expressão. Ao instituir no artigo 5º da Constituição, inciso XIV, que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”, os constituintes consagraram um princípio essencial ao pleno desenvolvimento do jornalismo, elemento fundamental da democracia.


Como resposta imediata à decisão do Supremo, foi criada em setembro uma Frente Parlamentar, que contempla quase 200 deputados e mais de 10 senadores. Propostas de emendas constitucionais, as chamadas PECs, tramitam no Congresso para conscientizar a sociedade sobre os riscos do fim da exigência do diploma. Um deles é a quebra do sigilo da fonte, possibilidade, como apontou o noticiário, sugerida pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, durante a CPI do Grampo, no começo do ano. O profundo respeito ao legado de Jobim para a construção da democracia brasileira, sobretudo no período em que exerceu a presidência do STF, não me impede de discordar de sua proposta. O sigilo da fonte representa preceito essencial da liberdade de imprensa, garantido pela Constituição.


A defesa de que sejam aperfeiçoados os instrumentos da legislação para que se evitem atos de irresponsabilidade não pode se confundir com iniciativas que ao final signifiquem redução da liberdade de expressão. Ao derrubar o diploma de jornalista, o SFT pode ter aberto flancos para que se instaure no país uma negligência com o domínio da informação pública.


É indiscutível a importância de termos uma imprensa livre, mesmo com falhas, a uma imprensa engessada por restrições políticas. A primeira tem a chance indelével de aprender com seus próprios erros e ser corrigida por seu público, em um processo simultâneo ao amadurecimento da sociedade. O mesmo não acontece na outra opção.


Você, cidadão, confiaria em uma reportagem assinada por um jornalista sem diploma? Confiaria em um modelo de imprensa com amarras?


*Deputado federal PMDB-RJ.


Fonte: Jornal do Brasil

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

“O problema não é quem começou isso. Somos nós... Todos nós que não fazemos nada.”

Com Robert Redford (Todos os Homens do Presidente), Tom Cruise (Missão Impossível 3) e Maryl Streep (O diabo Veste Prada), Leões e Cordeiros, filme dirigido por Redford em 2007, trata da realidade norte-americana e a guerra no Oriente Médio.

O longa baseado no roteiro de Mathew Michael Carmahan capricha no diálogo, revelando três lados da mesma situação. De um lado temos o senador Jasper Irving (Tom Cruise) e a jornalista Janine Roth (Maryl Streep) a quem ele concede uma entrevista exclusiva para expor o novo plano de guerra em andamento, onde vemos a questão dos interesses e da ética exposta no filme. De outro lado há o professor Stephen Maley (Robert Redford) que tenta persuadir um aluno brilhante, mas desmotivado a usar melhor seu talento. E por último, no Afeganistão, dois soldados lutam para sobreviver numa guerra sem sentido que já dura mais de cinco anos. Essas três abordagens se intercalam e se entrelaçam formando um painel da sociedade americana, envolvendo a atuação de políticos, militares, educadores e imprensa.

Como Leões e Cordeiros, Todos os Homens do Presidente (1976), também estrelado por Redford e dirigido por Alan J. Pakula trata os assuntos política e mídia. Na produção de 1976 a personagem do editor do jornal The Washington Post diz a Bob (Robert Redford): “Cuidado com o que escreve.” ilustrando muito bem a reflexão que se faz ao poder e ao dever da mídia e às perturbações de Janine, tratadas na produção dirigida por Redford.

O longa Leões e Cordeiros é instigante e inteligente, pois provoca a reflexão sobre o conflito entre Iraque e EUA e a alienação da sociedade, onde “leões são comandados por cordeiros”. Para quem se importa com o que acontece a sua volta e está disposto a pensar este é um filme e tanto. Vale à pena assisti-lo.