segunda-feira, 21 de março de 2011

Tempo que perdemos no sistema público educacional

Durante o ensino médio perdemos muito tempo. Não sei se por excesso de hormônios ou por que outra razão, mas de fato, na adolescência somos muito desinteressados. Claro que há algumas exceções, mas mesmo essas são poucas. Quando tivemos todo o tempo do mundo, o jogamos na lada do lixo. Como é ocioso o tempo de um estudante de 15 anos. Quem não se lembra dessa época de sua vida? Pode até ser verdade que isso é natural da juventude, mas alguém deveria fazer alguma coisa.

Talvez coubesse aos nossos pais nos tirar da ociosidade para algo mais produtivo, mas ocupados que era, creio que cabia também e principalmente a escola nos dar meios mais produtivos de usar nosso tempo.

Tanto na minha época, há três anos, como hoje (acredito que não tenha mudado) as escolas públicas não oferecem atividades de qualidade aos seus alunos. Como é raro um grupo de teatro sério nas escolas, um grupo de dança, um clube de xadrez, de matemática, um jornal, qualquer coisa que acrescente conhecimento, arte e cultura à juventude deste país.

Agora alguém vem e me diz que não é verdade, que existem grupos especializados nas escolas. Ok. Digamos que sim, existam grupos de teatro, dança, meio ambiente, um zilhão de atividades extracurriculares supostamente educativas. Eu pergunto: elas funcionam? Perdoem-me as raras exceções, mas eu digo que não. Esses grupos não têm apoio da diretoria da escola muitas vezes, outras não têm apoio do estado para uso de recursos e o pior de tudo na minha modesta opinião, não têm apoio da própria comunidade escolar. Os alunos e os próprios professores já estão tão acostumados com os vários nãos que esse tipo de projeto recebe que não se interessam mais por eles. A escola não acredita na perseverança desses projetos. Quando algum projeto desse tipo começa, vindo do entusiasmo de algum professor ou de algum estudante disposto a melhorar a realidade, não tem adesão dos alunos, é sucateado como a educação em geral e acaba sumindo, caindo no esquecimento ou sendo um projeto medíocre, que se mantém a duras penas para meia dúzia de teimosos que ainda acreditam no seu ideal.

Volto a dizer: existem exceções, mas são raras.

Então me pergunto por quê. E embora não tenha a resposta, pois nenhuma resposta justificaria o descaso deste país com a educação, tenho alguns palpites. A começar pelos baixos salários dos professores, fato sobre o qual nem preciso falar muito, pois já está mais do que manjado de tanto se falar nele. Depois vem a baixa despensa de recursos para a educação como um todo, desde a infraestrutura até a capacitação de profissionais. Os professores trabalham cada vez mais desmotivados e isso é, no mínimo, triste.
É claro que há medidas para melhorar, basta olhar os jornais, mas ainda estamos longe do ideal. E quem sofre com isso somos todos nós.

Quem nunca se perguntou, depois de entrar na faculdade, quando consegue chegar lá, por que perdeu tanto tempo no ensino médio. Além das oportunidades que poderiam nos ter sido oferecidas pela escola, o pensamento crítico foi outro aspecto negligenciado no tempo da escola.

O ensino público é tão preocupado em ensinar português matemática, física e química que esquece o mais importante: ensinar a pensar. Mas como esperar que uma escola onde faltam professores para mais da metade das disciplinas tidas como prioridade, matérias tidas como secundárias, como filosofia, religião, sociologia e psicologia sejam bem aplicadas? Quantos alunos de escolas estaduais não se lembram da chacota que eram essas aulas? Aulas inclusive, dadas por professores sem formação na área.

Precariamente aprendemos o essencial para passar em vestibular e ENEM, tendo que recorrer muitas vezes, quando os pais conseguiam, a cursinhos pré-vestibulares. Não recebemos uma formação digna. Não aprendemos a pensar. Muito mal aprendemos fórmulas matemáticas e regras gramaticais. Ninguém nos explicou o porquê das coisas. Não nos exigiram pensamento crítico. Os professores estavam (e continuam) tão desestimulados que não foram além do mecânico, do básico.

Enquanto alunos tínhamos tanto tempo livre para pensar, ler, estudar e ninguém foi capaz de nos indicar o melhor a fazer com esse tempo livre. Não tivemos o apoio intelectual dos professores. Por que não nos apresentaram a Sofia de Jostein

Gaarder, a Kant, a Aristóteles ou Platão. Muitos desses passaram batidos e desinteressadamente por nós. Onde estava o “mestre” para nos guiar ao caminho do conhecimento? Provavelmente lutando contra os baixos salários de sua classe.

Verdade é que os adolescentes não se interessam pela leitura. Mas verdade também é que a maioria dos professores não se interessa pela juventude. Ainda que um único aluno se interessasse, seria dever do professor oferecer as ferramentas. Eu poderia aqui criticar a juventude, mas infelizmente é preciso criticar o desinteresse da escola pública como um todo.

Hoje percebo a falta que esse conhecimento teve na minha formação e tento correr atrás do prejuízo, mas não tenho o tempo livre que tinha há alguns anos. Espero que meus filhos, se um dia os tiver, tenham acesso a um ensino público de qualidade. Sei que o Brasil luta por isso, mas ainda há muito que melhorar. O caminho a ser percorrido até a educação ideal é longo e passará por muitos obstáculos ainda. Vamos torcer para que professores, secretários e ministros de educação tenha fôlego e interesse para seguir em frente.