sábado, 16 de outubro de 2010

O poder de uma canção

É incrível a quantidade de sensações diferentes que uma única canção é capaz de despertar. Quem nunca sentiu algo diferente ao ouvir uma música? Quem nunca se sentiu tão bem que escutou centenas de vezes seguidas a mesma música? Ou quem nunca se entristeceu ao ouvir uma música? Queria eu poder, com meus textos, despertar algo tão profundo nas pessoas...

Algumas canções nos trazem uma certa nostalgia, uma sensaçõ estranha e gostosa no fundo do peito. Back to December, da Taylor Swift, é uma delas, pelo menos comigo. É tão bom sentir esse tipo de coisas às vezes.

Já tive vontade de fugir estimulada por uma música... Já me senti arrependida de coisas que julgava estarem certas... Já perdoei influenciada por canções falando de amor.... Já me senti pra baixo, um verdadeiro lixo, só de ouvir uma música. Mas também já me senti o máximo! Sempre impulsionada por uma canção! Muitas vezes até mesmo independente da letra. Música clássica, por exemplo, alivia minhas enxaquecas! Ainda bem que em meio a todo o funk , sertanojo e eletrônicas, ainda existem músicas de verdade! Para nos fazer rir, chorar, cantar e dançar... Para colorir nossa vida!

Não, eu não me referia ao Restart!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

E a cinderela teve chulé para sempre....

Ah, os contos de fadas.... Lindos, mas... Alguém já parou pra pensar no que que há por trás dos contos de fadas? Todo aquele enredo de princesinhas indefesas e príncipes heróis salvadores tem por trás muito mais do que mero entretenimento para garotinhas de 0 a 12 anos (ou mais, que seja). É, com certeza!

Alguém já pensou no machismo por trás dos contos de fadas? Sim, há muito machismo nessas historinhas para crianças. São sempre princesinhas indefesas, nunca príncipes indefesos... Sâo sempre garotas à espera de um homem que virá salvá-las. Uma princesa de contos de fadas nunca é autosuficiente! 

Basta olhar para a Cinderela, que só teve sua liberdade quando o príncepe a resgatou da bruxa má, mas não sem antes fazê-las experimentar o sapatinho que metade do reino já havia experimentado. Ele devia ser cegueta mesmo para não notar quem era sua princesa sem o sapato.

Depois temos rapunzel que deve ter cefaléia até hoje, coitada! Teve um príncipe pendurado nas tranças para resgatá-la. Talvez não existissem escadas naquela época. E com certeza quem escreveu a história subetima a inteligência feminina, pois qualquer ser com cérebro teria cortado a trança para descer, mas tudo bem... talvez não houvesse tesouras nem objetos cortantes naquela época. Se bem que os príncipes sempre têm espadas...

E a Bela adormecida que ficou cem anos dormindo... À espera do príncipe que a resgataria do feitiço e das armadilhas da bruxa má. Sempre um príncipe... Não poderia ser uma fada madrinha? Uma bruxa boa? Não, tem sempre que ser um homem a resgatar a princesinha.

Nessa mesma linha temos ainda Branca de Neve. Essa até foi corajosa, fugiu, mas não sem a ajuda de um homem, claro. E foi parar em uma casinha com muitos homenzinhos, para os quais lavou, passou e cozinhou, até ser enfeitiçada por uma maçã e finalmente esperar e encontrar seu príncipe salvador.

Há muitos mais, talvez até mais machistas, como a Princesa e a ervilha, por exemplo, mas esses são os mais clássicos e são perfeitos exemplos de que contos de fadas tentam produzir na mente das crianças o machismo e a submissão feminina. Em pleno século XXI está na hora de contos mais estilo Shereck, contos gays, enfim, contos de fadas que tenham algo realista e condizente com a sociedade que temos e a que queremos para ensinar às crianças em meio a fantasia.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A TV na formação de jovens e crianças

Por Válerio Brittos e Angélica Pinheiro

A comunicação televisiva atinge milhões de brasileiros, sendo que a maior parte desses milhões a tem como única fonte de informação. Por isso é preciso pensar em como esse veículo chamado televisão afeta as pessoas e, principalmente, a educação das crianças. Como seus programas nem sempre adequados ao horário e à faixa etária de seus espectadores chegam a lares brasileiros e que efeitos podem ter na formação humana de jovens e crianças.

A televisão aberta como conhecemos pouco mudou ao longo de seus 60 anos. Ela está presente em nove de cada dez lares brasileiros, segundo o IBGE. Apesar de todos os avanços tecnológicos, esse ainda é o principal meio de acesso à informação e entretenimento da maior parte da população brasileira. Por mais que se fale em TV digital, multiprogramação, interatividade e internet, na televisão o que temos pouco difere do que tínhamos há dez ou vinte anos atrás – mesmo assim, essa é a mídia que mais influencia a vida das pessoas. Dita a moda, o modo de pensar e agir, de que ou de quem gostar. Isso porque ela é um espelho da sociedade, que pauta a vida cotidiana. Embora por vezes distorcida, demonstra a organização da sociedade como ela é ou como a empresa de mídia televisiva quer que ela seja vista.

Cada canal de TV, através do conteúdo transmitido em sua programação, é capaz de interferir na vida das pessoas e no seu modo de pensar e agir, principalmente as menos instruídas ou aquelas cuja informação se limita à televisão. Acontece algo muito semelhante ao que disse Lasswell na teoria hipodérmica da comunicação: que as pessoas absorvem e aceitam tudo o que é transmitido pela mídia como verdade absoluta. A diferença é que as pessoas não aceitam assim tão passivamente, apenas assimilam o conteúdo veiculado por tratar de assuntos da sociedade. Aí, então, transmitem o que podem daquilo que "aprenderam" na TV.


Saber procurar e usar adequadamente

Se esse veículo é capaz de educar adultos, determinar gostos e desgostos, criar jargões que serão usados pela maioria da população, dos mais aos menos instruídos, o impacto sobre a educação de uma criança é ainda maior. Isso porque uma criança tem a capacidade de aprender e copiar o que vê muito maior que a de um adulto, pois tudo é novidade. Precisamos ter cuidado com aquilo a que as crianças assistem.

Por mais que exista classificação indicativa para cada programa, a maioria das crianças acaba assistindo a programas inapropriados, como o Big Brother Brasil, da Rede Globo, que destaca nudez, palavrões e preconceito; A Fazenda, da Rede Record, com o mesmo enfoque; ou mesmo a novela, pois seus pais assistem e as crianças acabam assistindo junto. Há meninos e meninas entre sete e doze anos viciados em reality shows e programas como Pânico na TV, cujos horários, além do conteúdo, são totalmente inconvenientes para o bom desenvolvimento da criança. Programas nesses horários geralmente exploram conteúdos inapropriados para as crianças, tais como sexo, nudez, violência e linguagem grosseira, que ferem e agridem moralmente os padrões sadios de comportamento infantil.


Além desses programas, de horários bem indicativos, outros programas como as novelas e programas de auditório podem ser um péssimo modelo para os jovens, pois exploram a beleza feminina, a nudez e, no caso das novelas, a maldade e o crime, com vilões que sempre se dão bem até os últimos capítulos. Esses exemplos servem para nutrir sentimentos de impunidade, de ganância, de que o bonzinho sempre sofre até o último capítulo, de inferioridade para as meninas, de que precisam ser extremamente magras ou curvilíneas para atrair a atenção para serem bonitas, de que os meninos precisam ser os malandros para atrair a atenção das meninas, entre outras coisas.


Por isso, os pais precisam estar sempre atentos aos seus filhos e em especial no que diz respeito à programação a que assistem. A televisão pode ser boa no auxílio à educação de crianças, jovens e até mesmo adultos, pois oferece muita informação e tem muita coisa boa na sua programação. Apenas precisa que se saiba procurar por ela e usá-la adequadamente.

Link original: Observatório da Imprensa

sábado, 26 de junho de 2010

“Ah, o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê...”

Ah, o amor... Sentimento traiçoeiro que atinge ou já atingiu 11 a cada 10 pessoas no mundo. Quem diz nunca ter amado tem sorte... ou não, pois há quem diga que “pior que sofrer por amor é nunca ter amado”, além do mais certamente ainda vai passar por isso. Todos passam. É como tirar sangue, ou ouvir um novo hit do momento. Se você ainda não tirou sangue, por algum motivo ou outro vai acabar precisando tirar e se ainda não ouviu, sei lá, o “Rebolation”, vai acabar ouvindo, querendo ou não. É como gripe ou febre, todos têm em algum momento, quando não em muitos. O mesmo acontece com o amor... ele acontece mesmo. É inevitável.


Amar é lindo. Amar é ótimo! Quando se é amado em troca pela mesma pessoa a quem o amor é dedicado, é claro. Sofrer por amor...? Talvez seja o pior dos sentimentos.Talvez. Isso porque o amor é um dos sentimentos mais fortes. Um amor não correspondido ou mal correspondido é pesar que parece não ter fim... “O amor é uma dor” por si só e se não é correspondido... já se pode imaginar como é. Difícil.... Mas nem tudo está perdido! É certo que não há cura absoluta para um coração despedaçado, mas com o tratamento certo tudo volta ao normal com o tempo.

Há que diga que se ama uma vez só na vida. Eu discordo. O primeiro namorado pode não ser o grande amor da sua vida, mas é amor! E não será necessariamente o único amor. Amor só é amor até que deixe de ser. Simples assim. Por ser simples não significa que não seja complexo no todo. Complicado no todo é mais bonito, é mais poético... Entretanto, simplificado é menos doloroso. Um segredo sobre o amor: deixa de ser amor quando gera mais lágrimas do que sorrisos, por isso precisamos descomplicá-lo. O poema de Camões diz que o amor é “um contentamento descontente”. Devemos prestar atenção se o descontentamente for apenas descontente, pois se for algo está errado. “É ferida que dói e não se sente”, mas se começar a sentir... é qualquer outra coisa, menos amor. Amar é lindo, mas sofrer é ridículo. Pode parecer bonito nos filmes, mas na vida real é pura estupidez. Não faz sentido ser estúpido. É incrível como algumas pessoas amam por amar... Só vale à pena amar por amor. Devemos pensar nisso, para que o ato de amar não deixe traumas em mais ninguém. O amor é lindo. Amar... às vezes pode não ser.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ah, se eu tivesse...

Sabe aquela sensação de arrependimento? Aquele "ah, se eu tivesse feito aquilo ou dito aquela outra coisa"? E aquele ditado que diz que o pior arrependimento é o que vem daquilo que não fazemos? Hoje eu sei o que é isso. Pela primeira vez na vida me arrependo de alguma coisa que deixei de fazer. Pela primeira vez me arependo de verdade.

Sempre fui muito certinha e boazinha demais para fazer algo muito errado e magoar alguém de quem gosto. Certinha demais para me permitir certas coisas, como a experimentação do amor... Ser uma pessoa certinha demais tem seu preço, às vezes pode custar uma possível grande história de amor...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O lado bom de um blog que ninguém lê

Ninguém lê. Esse é o lado bom. Quando você escreve nelhores ao invés de melhores e só se dá conta disso meses depois, não faz diferença. Ninguém viu mesmo. Ou quando você publica um texto sem craze onde deveria ter uma craze. Pode acontecer com qualquer um. Mas geralmente, em um blog, pessoas veem esse ti´po de coisa. Só que ninguém vê quando ninguém lê. É como um diário público anônimo. Invisível. Perfeito para o tipo de pessoa que se expõe sem querer ser vista. Não que eu seja esse tipo de pessoa ou esse seja o caso do meu blog, claro. Nunca. É só uma reflexão sobre algo que pode ser a realidade de alguém. Do blog de alguém.Um pobre alguém por aí... Com um lado bom.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Contagiante, emocionante e envolvente

Teatro, música, magia, poesia e fantasia. Isso é O Teatro Mágico, um grupo de São Paulo que mescla teatro e música como ninguém. Suas músicas transmitem paz e tranquilidade. Uma visão poética e otimista, muitas vezes engraçada e sempre reflexiva sobre a vida. O alento que faltava, o tipo de música que há muito não se via... O Teatro Mágico é o tipo ideal de entretenimento para amantes de todo tipo de arte.

http://www.oteatromagico.mus.br/
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=6678432

segunda-feira, 8 de março de 2010

Da fantasia à vida real

Tudo na vida muda. Às vezes para melhor, às vezes para pior. Ou simplesmente muda. Gostaria de saber se o que mudou foi para o melhor...

Sempre sonhei demais. Passei a vida lendo romances e imaginando o dia em que a minha vida seria como um deles. Enquanto esse dia não chegava eu era feliz na minha fantazia. Não importava o livro, não importava como seriam os personagens, o contexto histórico ou social, eu sempre estava lá e o meu amor também. Assim foi por um bom tempo... Saía do livro para o mundo real à espera de que o mundo real se transformasse no meu próprio romance com final feliz e muito mel.

E assim foi..., por um bom tempo. Até o dia em que encontrei alguém, alguém que pensei ter julgadso com a cautela necessária para não me precipitare acreditei finalmente ser meu príncipe encantado. Pensei ter encontrado o mocinho das minhas fantazias que me faria a mocinha de um lindo romance. Quando acreditei  e apostei nisso... as linhas do meu próprio romance começaram a se desenrolar em letras cor-de-rosa em páginas coloridas. Parecia um sonho. Era melhor do que eu poderia imaginar, era o melhor romance de todos! Nem Nora Roberts seria capaz de imaginar melhor!

A cada dia que passava mais e mais letras cor-de-rosa preenchiam as páginas coloridas. Algumas letras e vez ou outra algumas palavras caíam na opacidade do real fora da página, mas até mesmo a fantasia precisa da realidade para se manter, afinal toda história é uma versão do real, melhor ou pior. E era sem dúvida a melhor versão daquilo que a vida real era capaz de ser! E eu estava vivendo...

Com o tempo um maior número de palavras começou a cair da página colorida, mas elas sempre voltavam a se alinhar... Até que um dia, letra por letra, as palavras começaram a cair da página, levando consigo frases e parágrafos interiros ao abismo da opacidade. E agora esporadicamente algumas poucas palavras, uma ou outra linha, retornam ou surgem na página colorida, impossibilitando o meu sonhado final feliz.

Parece que minha história mudou e a minha fantasia virou vida real... simples e opaca.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Na noite das barricadas, a esperança é uma canção

A noite do Haiti é um canto infinito que parte do coração de Delmas e chega aos Champs de Mars e ao Palais National. A noite do Haiti é o canto dos vivos que choram os mortos e rezam por si mesmos. É o canto desesperado dos prisioneiros de Petionville, o condomínio-parque que foi atingido pelos terremotos duas vezes. É o canto vudu dessa mulher que agora não canta, não fala, mas grita a raiva reprimida de dia, colocando-se atrás de um pequeno grupo de pessoas. É um canto fúnebre infinito, que mistura orgulho negro e síntese crioula, as melodias esquecidas dos franceses e as canções ouvidas na rádio até ontem, antes que o grande tremor destruísse também a programação da Signal Fm, transformando-a em Rádio Terremoto.




A noite do Haiti não é apenas dos desalojados e dos sem-teto. Tomem, por exemplo, Benoit Plejeudi. "Veem? Aquela é a minha casa". Delmas está entre as zonas mais atingidas. As casas que caíram sobre si mesmas. O terremoto fez ao Citibank aquilo que nem a recessão havia ousado: todo no chão de um só golpe, ruínas sobre ruínas. Em cada esquina das ruas, os cartazes publicitários de Nino Cell anunciam maravilhas: quarta-feira passada, ele também fechou a sua sede protegida por aquele endereço propiciatório, Rue des Miracles, 117. Uma catástrofe. Para cada cada que veio abaixo, haviam talvez quatro, cinco que eles haviam erigido. O tremor de assestamento de ontem não teve piedade. Agora, o trabalho de demolição do Haiti está quase completo. Mas com a cidade destruída, aquele pouco que resta de pé é um tesouro ao qual se agarrar. O que fazer, senão? Misturar-se aos milhares de refugiados de Petionville, assediados pelos bandos de ladrões e estupradores?


"Aquela é a minha casa", diz Benoit, com a filhinha no braço, "esta é a minha família, estes são os meus vizinhos". O acampamento nasce do nada enquanto o sol está declinando. É um êxodo invisível e silencioso. Durante todo o dia, as construções achatadas são habitadas como se nada tivesse ocorrido. O quadro é surreal: na casa de Jeff Horacio ninguém se deu ao trabalho de colocar de pé a árvore de Natal derrubada pelo tremor. Mas isso ocorre de dia. De noite, todos saem: nas costas, um cobertor, um travesseiro, um lençol, qualquer coisa, enfim, que possa se transformar em uma cama. Lentamente, as ruas de Porto Príncipe são inundadas por um rio de famílias. E é então que a noite dos cantos começa.


Cabe ao chefe de família dar o início. Agora, é o momento de Benoit. Começa um canto em francês que, aos ouvidos de um ocidental ignorante, se parece às velhas canções de Henri Salvador. E, ao invés, aquela música tão relaxada e sensual é um canto religioso. Aqui no Haiti basta acenar à melodia para arrancar um sorriso de compaixão, de partilha de um destino. É "Reference 6 Creole", a canção mais conhecida dos "Chants d'Esperance", uma coleção de cantos da Igreja evangélica. "Desde que te conheço / desde que vi a tua luz". Em um segundo, toda a rua é um canto. Até os cães param, que, desde a tarde do terremoto, nunca deixaram de latir.


Agora, Benoit está de pé como um regente de orquestra. Nem o canto para mais. Dando a volta na esquina – pó e britas mesmo antes do terremoto – e recomeça outro.


Cada beco protegido por barricadas improvisadas: blocos de pedras, galões de gasolina, alguns pedaços de madeira. Uma proibição de acesso tímida. Servirá? Cada noite é uma aposta. Mas pelo menos aqui não existe o pesadelo do International Club. Não, não se deixem enganar pelo nome. O International Club faz parte do parque mais amplo de Petionville. Do lado de fora, estão, porém, as insígnias do ministério: "Protegemos o meio ambiente". Qual? Petit Bossimys é um jovem voluntário de Book of Hope. A associação evangélica está entre as mais ativas em nível local: haitianos por haitianos. Quando chega a noite, o International Club é um acampamento sem fim. E se no desespero há uma classificação, os cantos daqui vão direto ao primeiro lugar. Aqui, vocês nunca ouviriam "Haiti Cheri": "Terra do mar, maravilhoso sol". Isso é coisa da Caraibi Fm: esqueçam-na. Aqui até os "Chants d'Esperance" parecem de desespero.


Bisha Laroque é o médico do campo. O único. "Cerca de 20 voluntários entre enfermeiros e rapazes de serviços gerais. Mas como fazemos? Falta-nos tudo". A Cruz Vermelha, a ONU, as ajudas? "Nada de nada de nada. Precisamos de gases, barracas. Precisamos de água, comida. Precisamos de remédios. Este fedor? Não temos água para beber: como podemos pensar no resto?".


O doutor Laroque até segunda-feira passada trabalhava no Dash, o hospital de Dalmas 35, uma outra estação do calvário do Haiti: o terremoto impiedoso também fechou aquele. Agora, Laroque une sua voz aos cantos da noite. Diz Luiji Looco, que é o chefe do campo: "A segurança? Fazemos o possível. Na noite anterior, por exemplo, houve um saque e só dois estupros. Poucos? Um estupro é um estupro. Ou queremos que o terremoto nos tire também o último gesto de raiva e piedade?".


Falta-nos pouco. O espetáculo de Champs de Mars de dia há é um choque, mas de noite é uma alucinação. Aqui é onde os vivos se confundem com os mortos, a poucos passos do hospital com as pilhas de cadáveres. Champs de Mars nunca foi um parque de princípios, mas nem esse pesadelo que se tornou agora. À sombra do Palais Nacional é um espetáculo de "Day After". Não há nem a dignidade do acampamento assediado de Petionville. Aqui estamos no coração da cidade, e o campo foi entregue à iniciativa individual. Tradução: camas de pobres desesperados. Todo o fedor de Haiti está reunido aqui em cima. Render-se? Duas missionárias, também evangélicas, se desafiam à distância: basta entoar o enésimo canto. Em torno das mulheres já há um grupo de pessoas: mãos erguidas ao céu, "Deus doçura, Deus esperança". Do campo que não dorme nunca, as crianças alternam os choros com a canção: "Deus doçura, Deus esperança".


Esta noite também irá terminar. O galo começa a despertar nos becos de Delmas. Na metrópole do terceiro mundo, é um retorno ao futuro: a zona rural há tempo havia retomado a cidade, o terremoto acelerou o processo. Os galinheiros das residências também foram destruídos. Todos livres: assim como os 4 mil detidos que fugiram da prisão arruinada. Dentro de pouco tempo, esta noite também irá terminar, e todos voltarão a subir novamente o rio de rua com os travesseiros e alguns trapos debaixo do braço.


Mas há quem ainda não tenha se dado conta do sono que, por poucas horas, faz esquecer quase tudo. Um último canto, que, desta vez, parece verdadeiramente inconfundível, mas talvez é melhor ouvir duas, três, quatro vezes para não errar. Sob as estrelas do terremoto agora cantam: "Voar, voar". Só essas duas palavras: não vão mais adiante do que isso. Mas na noite dos cantos do Haiti destruído, já é um outro milagre.

Fonte: IHU